sábado, 14 de abril de 2012

Juan Manuel Santos, de falcão a pomba


Hernando Calvo Ospina

Traduzido por Anonymous Anonyme Anónimo Anonym Ανώνυμος بی امضاء

Para surpresa de muitos, desde que o 7 de agosto de 2010, Juan Manuel Santos assumiu a presidência de Colômbia passou de falcão a pomba.O gesto mais inesperado foi tratar de “meu melhor amigo” a Hugo Chávez, presidente de Venezuela, quando se reuniu com ele três dias depois de sua posse, reativando as relações diplomáticas com Caracas. Com Equador também restabeleceu em tempo recorde as relações. Por outra parte, esse homem vindo da direita afirma agora que a "prosperidade social" ;e o principal objetivo de seu mandato. ¿Como explicar câmbios tão espetaculares?

Desde o 7 de agosto de 2010, Juan Manuel Santos é o presidente de Colombia. Pertence à oligarquia tradicional. Sua família construiu poder graças ao jornal de Bogotá El Tiempo, “até manejar os meios de comunicação à vontade, sempre ao serviço do poder”, segundo Alirio Uribe Muñoz, advogado defensor de direitos humanos. Formado de sub-oficial na Academia naval, e de economista em universidades de Estados Unidos e Reino Unido, chegou a ocupar os ministérios de Comércio Exterior e da Fazenda. Em 2004, deixa o Partido Liberal e passa a apoiar o governo de extrema direita do Presidente Álvaro Uribe. No ano seguinte, é nomeado chefe da campanha para a reeleição de Uribe e do vice-presidente, seu primo Francisco Santos. Em julho de 2006, é nomeado ministro da Defesa, cargo que ocupará até maio de 2009, quando decide se lançar como candidato à presidência de Colômbia.

Ser presidente se converteu para Santos em uma obsessão, desde o momento em que a Corte Constitucional se opôs a que Uribe concorresse a um terceiro mandato. Ademais de suas ânsias de poder, devia se blindar contra eventuais demandas penais por crimes de lesa humanidade cometidos contra a população pelas forças armadas e de segurança, sob seu comando. Para conseguir isso, não teve escrúpulos -segundo o advogado Alirio Uribe Muñoz- em utilizar a influência das “hordas uribistas”, principalmente paramilitares, chefes narcotraficantes e os 130 parlamentares processados por diversos delitos.

O advogado nos faz o seguinte relato: “O ex presidente Uribe representa o mundo agrário e dos latifundiários enriquecido mediante o despojo violento, misturado com as classes emergentes do narcotráfico e crimes do paramilitarismo. Santos é um homem urbano, culto e cosmopolita por excelência. Porém, junto com sua família, se tem aproveitado do Estado para favorecer seus negócios e seu enriquecimento pessoal. Como membros destacados da oligarquia, não têm duvidado em propiciar e utilizar os métodos violentos para manter seus privilégios.”

Em novembro de 2005, o ministério da defesa aprovou uma diretiva secreta que estabelecia um preço pela cabeça dos guerrilheiros. Então, os militares se dedicaram a assassinar civis, apresentados nos meios de comunicação como "rebeldes mortos em combate" que foram chamados "falsos positivos". A Fiscalía General investiga uns três mil casos, entre os quais há adolescentes, retardados mentais, indigentes, viciados em drogas...

Quando Santos chegou ao ministério, em julho de 2006, se registraram 274 casos de “falsos positivos”. No ano seguinte, foram 505 assassinados... Ante o escândalo midiático e os informes do Alto Comissionado da ONU, a prática foi detida: em 2009, sete casos... 27 oficiais foram demitidos, incluindo três generais, mas...… sem ser responsabilizados por esses assassinatos. A ONU expressou, em julho de 2009, que “a impunidade em relação com as execuções extrajudiciais chega ao 98,5%.”

Os paramilitares têm sido os encarregados da estratégia de “terra arrasada” para desalojar do campo àqueles moradores tidos como subversivos pelo governo. Há mais de 4 milhões de campesinos deslocados, ou seja mais do 10% da população que mora no campo. Uns 10 milhões de hectares de alto interesse econômico têm sido roubadas das vítimas, e ofertadas às multinacionais, novos latifundiários paramilitares, caciques políticos e comandos militares (1). Agora, o presidente Juan Manuel Santos tem apresentado uma “Lei de Terras” como a panacéia, com a qual se pretende devolver os campos aos deslocados. Ao cumprir cem dias de mandato expressou: “Nos propusemos um plano de choque para titular até abril de 2011, 378.000 hectares, e já cumprimos três quartas partes dessa meta”. Mas, são 10 milhões de hectares…

Se estima que 250.000 pessoas têm sido “desaparecidas” pelas forças de segurança e seus paramilitares. Só nos últimos quatro anos foram quase 40.000 pessoas (2). Algumas delas foram enterradas na maior cova comum de América Latina, que fica perto de uma base do exército, sediada a 200 kilómetros ao sul de Bogotá: mais de 2.000 cadáveres... (3).

Agora, os paramilitares são chamados de Bacrim, “bandas criminais” . Cifras oficiais indicam que atuam em 21 dos 32 estados (departamentos colombianos), ou seja no 75% do território, e são dirigidas, na sua maioria, por assassinos anistiados pelos seus crimes durante o mandato do presidente Uribe. “Nas primeiras semanas do governo do presidente Santos, o acionar das bandas criminais se tem reativado (…) avançam no controle territorial e político ao melhor estilo das velhas estruturas paramilitares” (4). O novo governo insiste e que esses crimes estão relacionados com o negócio das drogas, mas "a realidade monstra que atentam contra lideranças sociais"(5). O partido opositor Polo Democrático Alternativo denunciou em 9 de novembro de 2010, que nos primeiros dias do mandato do novo presidente, uns cinqüenta lideranças políticas e sociais tinham sido assassinados....Diante dessa violência estatal, quatro Relatores Especiais da ONU examinaram a situação dos direitos humanos. Em seus informes o Ministério de Defesa estive sempre na primeira linha de responsabilidade...

"Israel Ziv ex-comandante do regimento de Gaza é o homem de mais alta patente entre os oficiais israelitas que ocupam tarefas relacionadas com o treinamento de pessoal no governo colombiano"

É importante sublinhar também a estreita relação de Santos com as autoridades de Israel e seus serviços de segurança. O ex-general Israel Ziv foi levado a Colômbia por Santos -que viajou várias vezes a esse país do Oriente Próximo- pela soma de dez milhões de dólares para assessorar os serviços de inteligência. "Israel Ziv ex-comandante do regimento de Gaza é o homem de mais alta patente entre os oficiais israelitas que ocupam tarefas relacionadas com o treinamento de pessoal no governo colombiano. Os nexos militares entre Israel e Colômbia datam do primeiro lustro de 1980, quando um contingente de soldados do Batalhão Colômbia...’Uns dos piores violadores dos direitos humanos no hemisfério ocidental, receberam treinamento no deserto do Sanai de alguns dos piores violadores dos direitos humanos no Meio Oriente’, segundo o investigador estadunidense Jeremy Bigwood"(6)

Em outubro de 1997, Manuel Santos já tinha demonstrado sua falta de escrúpulos. Se reuniu com os três principais chefes paramilitares para propor-lhes que participaram de um golpe de Estado contra o presidente liberal Ernesto Samper (proposta que também foi feita por ele às guerrilhas das FARC e ELN). Um deles, Salvatore Mancuso, ratificou esse convite pouco tempo atrás ante juízes estadunidenses e colombianos, desde um cárcere nos EUA (7) para onde foi extraditado em maio de 2008, junto a outros 14 chefes paramilitares, por tráfico de drogas, atividade que financia o paramilitarismo (8). Foram enviados para lá, porém seus crimes eram de lesa humanidade e isso prima por sobre outros delitos. Dessa fora, se evitou que os colombianos soubessem de primeira mão a responsabilidade do Estado com o paramilitarismo.

Em setembro de 2008 o jornalista venezuelano José Vicente Rangel disse sobre Santos: "É o homem do Pentágono na política colombiana. Tem adquirido força à sombra de Uribe e, hoje é possível dizer que supera ao próprio Uribe"(9)

Santos foi um seguidor da linha dura do ex-presidente George Bush, sobre a "guerra preventiva "contra outras nações, alegando legítima defesa.

Por isso violou a soberania do Equador quando atacou militarmente um acampamento guerrilheiro onde morreu um cidadão equatoriano, razão pela qual um juiz desse país formulou ordem de captura internacional contra Juan Manuel Santos com fins de extradição. Essa decisão foi suspensa o dia 30 de agosto de 2010. Em abril de 2010, sendo candidato à presidência declarou que estava "orgulhoso" pela realização dessa ação militar em território equatoriano. O presidente desse país, Rafael Correa manifestou: "Santos não tem entendido que em América Latina, já não há espaço para aspirantes a emperadorzinhos". Pela sua parte Hugo Chávez alertou: qualquer agressão contra Equador, Bolívia, Cuba ou Nicaragua "será um ataque contra Venezuela". O presidente boliviano, Evo Morales, considerou Bogotá "sub-servente e obediente ao governo dos EUA"

Aquilo que deixou em tensão a região foi o acordo militar com Washington, assinado em outubro de 2009 onde Colômbia permitia a utilização de 7 bases militares. Mas, a dez dias de iniciado o mandato de Santos, a Corte Constitucional declarou esse acordo "inviável". Foi um duro golpe para o presidente. Consuelo Ahumanda professora universitária em Bogotá, baseada nos documentos divulgados em Wikileaks, escreveu: "Resulta muito comprometedor o papel do então ministro da defesa, Juan Manuel Santos, quem manteve sempre a posição mais dura, no respaldo a Uribe, diante de uma mais diplomática proposta pelo Chanceler. Santos e Uribe apoiados por Washington estavam dispostos a incursionar de novo nos países vizinhos para atuar contra as FARC (....) Não eram infundados os temores dos governantes sul-americanos sobre o alcance regional do acordo da Colômbia com os EUA (10)

Mas, para surpresa de todos, com a presidência em mãos, Santos passou de ser falcão para se converter em pomba. Seu ato mais inaudito foi chamar de "meu melhor amigo" ao presidente Chávez e, reativar em tempo recorde as relações com Venezuela e Equador. Segundo Sérgio Rodríguez, catedrático venezuelano: A ruptura com Venezuela e Equador tinha deixado para Colômbia perdas de mais de sete bilhões de dólares no ano de 2009. E Santos faz parte dessa oligarquia reacionária mas pragmática, com poderosos interesses corporativos a serem defendidos".

Paralelamente, Santos segue robustecendo os laços com Washington. Em 30 de janeiro passado o ministro da defesa, Rodrigo Rivera viajou a Washington com o objetivo de "aprofundar a relação em matéria de defesa e segurança com os EUA. "Foi recebido pelo seu homólogo Robert Gates, assim como pelo chefe do Comando Sul, o sub-secretário para os Assuntos de Segurança das Américas e o diretor adjunto da CIA. Forças de contra insurgência colombianas participarão na guerra do Afeganistão. As despesas serão assumidas pelos EUA e Espanha. Os comandos estarão alojados nos batalhões espanhois e, sem que Colômbia seja membro dessa coalição, estarão sob a bandeira da OTAN.

O mesmo primeiro dia que o ministro Rivera chegava nos EUA, Colômbia ingressava no Conselho de Segurança da ONU por dois anos. A candidatura de Bogotá havia sido impulsionada por Washington e Paris. Por isso não foi casual que em 24 de janeiro o presidente colombiano aproveitou para se dedicar a vender os recursos naturais de seu país e também os de América Latina, porque "tem o que, nesse momento, o mundo está pedindo: petróleo, por exemplo.

Seu jornal El Tiempo, publicou nessa oportunidade: “Santos deu esta semana um novo passo para converter-se no líder latinoamericano que quer ser.”

Notas:
(1) www.movimientodevictimas.org...
(2) www.telesurtv.net/noticias/s... mas-de-38-mil-personas-desaparecidas-en-tres-anos/
(3) www.publico.es/internacional... adaveres
(4) Radio Nederland, Amsterdam, 26 de agosto de 2010.
(5) El País, Madrid, 30 de enero de 2011.
(6) José Steinsleger, “Israel en Colombia”, La Jornada, México, 12 de marzo de 2008.
(7) El Espectador, Bogotá, 21 de abril de 2010.
(8) Hernando Calvo Ospina, Colombia, laboratorio de embrujos. Democracia y terrorismo de Estado, Akal, Madrid, 2008.
(9) VTV, Caracas, 17 de octubre de 2008.
(10) El Tiempo, Bogotá, 12 de enero de 2011.

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